quarta-feira, 8 de julho de 2009

O Doador, de Lowis Lowry [The Giver]


Intrigante livro de Lois Lowry nos leva a questionar os valores de uma idealizada sociedade.


Imagine uma sociedade futura perfeita: sem crimes, sem conflitos, com igualdade social. Porém uma sociedade sem amor, desejo, vontades. Desprovida de cores, de chuva, tempestades, neve, sensações, memórias... É a partir deste cenário que a autora Lois Lowry enreda sua obra, intitulada “The Giver” ou “O Doador”. Intrigante e reflexivo, o livro narra à história de Jonas, um garoto que está prestes a completar 12 anos, e de acordo com a sociedade em que vive, é nesta época a qual o individuo recebe a determinada profissão, passando assim, por um processo rígido de treinamento. Por meio de uma “celebração dos 12 anos”, as crianças se encaminham para uma cerimônia a qual será “entregue” a devida carreira. A aventura inicia-se quando o pequeno Jonas recebe a profissão mais árdua e enigmática de todas, ser o novo Doador daquela coletividade.

Porém, as complicações afloram quando o menino descobre em meio ao seu treinamento: o sentir. Com a ajuda de seu treinador, o mais antigo “recebedor de memórias”, que guarda - apenas consigo – todo o conhecimento do mundo. Jonas principia um sofrimento interior, questiona os valores daquela sociedade visivelmente superficial e integralmente racional, e procura solucionar ao lado de seu instrutor uma forma de resgatar os valores perdidos.

A história lembra muito as primeiras teorias da ciência social: Positivistas/Funcionalistas, os quais tiveram influências do naturalista britânico Charles Darwin. Dizia Durkheim, um dos primeiros teóricos da sociologia, que o sujeito nasce para o coletivo. Acreditamos através de um conceito de liberdade que nossos pensamentos, comportamentos advém unicamente de nosso próprio EU. Segundo o teórico, a realidade social existe antes do ser humano vir ao mundo, o nível da força exercida por este fato social, nos influência até mesmo em nossas idéias, formas de pensar. Acredita-o, que essa consciência coletiva, é constituída por meio da cultura (educação, política, religião e etc.)



Não seria diferente para Jonas, que desde seu nascimento, seu desempenho fora baseado em influências de uma sociedade considerada, até então, perfeita. Conforme vai adquirindo conhecimento, e aprendendo por si mesmo distinguir as coisas, entra numa profunda confusão de valores... Continuar ou transformar? Conforme Durkheim, o correto seria adaptar-se, prosseguir realizando sua função, para que dê seqüência na coesão social. Porém, ao ganhar o conhecimento, Jonas não consegue simplesmente fingir, seria uma traição, todas as pessoas deveriam partilhar de todas aquelas lembranças e informações, saber que estão vivendo num mundo irreal e ilusório.

“Isso vem de gerações e gerações”, argumenta o treinador, não é possível transformar de um dia para o outro, as pessoas escolheram viver naquelas circunstâncias. O que para o sociólogo Durkheim, está corretíssimo: nascemos para o coletivo, e até mesmo o nosso olhar julgador, não é unicamente nosso, e sim, o olhar de todos. Lembra-me também, a teoria do sociólogo Karl Marx, que acredita em mudanças radicais, que o Positivismo é pura utopia.

Viver sem sentimento, conhecimento e memórias, nos faria parar de sofrer e seríamos mais felizes? Está é umas das perguntas que Lois Lowry nos deixa para meditar. Não deixe de conhecer esta incrível história!

1 comentários:

P. Florindo disse...

Olá

Sem dúvida, "O Doador" foi um dos livros mais inteligentes que eu já li na minha vida e ele pode nos ajudar a responder várias questões, assim como nos encher de dúvidas.

Por exemplo, estamos sempre em busca de algo mais, de melhorarmos, de aperfeiçoarmos. O que vemos na Mesmice é a realização do ideal. Ok, se existisse a sociedade ideal, como ela funcionaria. Quais seriam os seus pilares? A mentira? A nossa fortaleza da ignorância? A nossa superficialidade?

Podemos concluir que muitas vezes a sabedoria é um fardo pesado e nem sempre desejado, um fardo que pode nos levar do céu ao inferno. A ignorância pode ser um conforto e a mentira, mesmo que seja reprovável, em alguns casos, é preferível a verdade.

Essa sociedade também me remete à sociedade espartana (acho), onde aqueles que eram deficientes eram descartados, uma vez que não serviriam para a guerra (o caso dos "dispensados"). E me lembra também a vigilância do Grande Irmão de "1984".

OBS: desculpe pelos erros de digitação e concordância. Não reviso nada. :D