quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

MINHAS IMPRESSÕES DESORGANIZADAS E SUPERFICIAIS SOBRE PORTRAIT OF THE ARTIST AS A YOUNG MAN

INÚMERAS vezes enquanto lia o Portrait of the artist as a young man, meu amor pela beleza me deteve em um determinado parágrafo insistindo em se me destacar; e deixei-me, em cada uma d'estas ocasiões, transportar para a melancólica Dublin de Stephen Dedalus (o alter-ego do próprio autor). Relia duas, três, até quatro vezes um determinado período, conforme a admiração por sua invejável técnica fazia-me reflectir, divagar, menear enfim a cabeça, desconcertado diante da perfeição artística da obra.

Acompanhei a tenra infância que o abandonou; a fé que foi por ele abandonada. O discurso moral do pai ao pequenino, curioso, silencioso e obediente Stephen sufocar n'as dificuldades financeiras (prestem muita atenção à passagem da "língua do 'boro'" - a "língua do 'P'" dos irlandeses -, quando Stephen chega do colégio e descobre que serão novamente despejados por outro senhorio), e como, após entrar na faculdade, o filho não suporta mais a visão da figura do progenitor e o sentimento, pode-se concluir, é recíproco.


James Joyce no verão de 1904.


Do tronco que sustenta os acontecimentos principais aos galhos mais jovens (além da "língua do 'boro'", notem as cores que o talento de Joyce deu às memórias de sua primeira experiência amorosa); do estilo que vai amadurecendo conforme cresce o protagonista: ele faz-nos, a nós os leitores, perceber o desenvolvimento do embrião-d'escritor, que o fez mais tarde capaz de coisas como:


"She seemed like one whom magic had changed into the likeness of a strange and beautiful seabird. Her long slender bare legs were delicate as a crane's and pure save where an emerald trail of seaweed had fashioned itself as a sign upon the flesh. Her thighs, fuller and soft-hued as ivory, were bared almost to the hips, where the white fringes of her drawers were like feathering on soft white down. Her slate-blue skirts were kilted boldly about her waist and dovetailed behind her. Her bosom was as a bird's, soft and slight, slight and soft as the breast of some dark-plumaged dove. But her long hair was girlish: and girlish, and touched with the wonder of mortal beauty, her face".
(James Joyce; 1882-1941)


Esta é, pois, minha dica, merecedora do título que recebeu de mim mesmo, aos culturanjeiros que querem ler algo que, ao contrário d'este pobre orador que lha redigiu, merece o tempo e a paciência de vós outros. VALE.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Calixto, o novo Hortifrutigranjeiro.

Thiago Calixto, conhecido mundialmente como "Tica", é meu amigo de longa data. Nossa amizade remonta aos remotos tempos do "ginásio", tanto tempo faz que nem se chama mais assim. Tem 27 anos e é bacharel em Direito, atualmente acadêmico do curso de Psicologia na pequena Umuarama, interior do Paraná. Participante pelo terceiro ano consecutivo de projeto de pesquisa em Psicologia Jurídica, bolsista do PIBIC da Universidade Paranaense.

Calixto já teve suas andanças mundo afora, morou um tempo em Londres, Londrina, São Paulo e agora está novamente em Umuarama. E que felicidade a minha em reencontrar esse grande irmão e sabê-lo produzindo literatura. Não poderia deixar de colocá-lo na turma dos malucos literatas da cidade.

Poesia e prosa, a produção desse nosso novo compadre é bem abrangente, de temática diversa e muitas vezes hermética, personalíssima e sempre interessante. Além de ser o novo hortifrutigranjeiro do Culturanja, Tica também publica seus trabalhos no site Recanto das Letras, vale a visita.


Alzheimer


Um dos meus defeitos é não gostar da sensação de impotência diante de qualquer situação. Obviamente uma postura controladora e narcisista, mas enfim. Na leitura da doença de Alzheimer, alguns aspectos me marcaram amargamente: primeiro, por ser a causa mais comum de demência entre adultos, o que a princípio seria caso de preocupação individual não o é, mas sim um problema de saúde pública; segundo, por ser um mal degenerativo, letal e incurável, daí minha angústia descrita na primeira linha do ora discutido; terceiro, pelo fato de atacar a memória e as habilidades motoras, o que, em uma análise não científica, é capaz de embargar a voz e encher os olhos d’água.

Na minha escala de valores tenho a liberdade como nosso segundo bem maior, logo abaixo da própria vida, embora com certas condições. E quando leio “destruição de neurônios”, e conseqüente perda de memória, penso em dependência, em grilhões. Imagino a pessoa presa em sua própria alienação, desconhecendo amigos e parentes. Isso me remete à película “Mar Adentro”, a qual retrata, em seu momento derradeiro, a personagem portadora de uma doença degenerativa que não se lembra do grande amor de sua vida. Recebe de uma amiga uma carta do homem que transformou a sua vida, embora não saiba mais quem ele era. Perco-me em devaneios acerca desta questão. Vinícius de Moraes, nosso “poetinha”, dizia que a vida é a arte do encontro. O quão triste deve ser não recordar os momentos belos vividos, as pessoas maravilhosas encontradas no caminho, os lugares fantásticos outrora visitados. Mais penoso talvez para aqueles que amam o portador da doença, o que não deixa de ser doloroso para alguém.

A afetação da habilidade motora é outro aspecto crucial, posto que o enfermo, em sentido conotativo, volta a ser uma criança de colo, na senda de que necessita todos os cuidados triviais, como por exemplo, vestir-se, alimentar-se. Aqui vislumbro também a dependência dita a pouco, que torna o homem privado de autonomia sobre sua vida. Vem à cabeça a imagem fantasiosa de um cérebro, no qual cada emaranhado é uma pessoa amiga, uma reminiscência saudosista, um lugar de se conhecer nas férias, e o mal de Alzheimer seria como uma espécie de incêndio que se alastra, queimando tudo isto. É como se Deus retirasse a pessoa de seu interior, levando-a para junto dele e só deixasse o invólucro sem vida. Um indivíduo que apenas respira, contudo não se recorda dos suspiros.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

"Ahhh! She stole my karma, oh no!!!"

No final do ano passado, o Higor Coutinho, do Goiania Rock News, enviou um email pra turma, pedindo opinião sobre os melhores de 2007. Eu acabei enviando a minha meio tarde, mas ainda assim ele a publicou. Ai vai ela, e mais um link para quem ainda não conhece o disco:


Kings of Leon - Because of the Times

Aquele vocal do Caleb Followill continua impossível de se descrever sem usar a palavra "bizarro". A bateria está muito bem arranjada e dinâmica e em conjunto com o baixo "matador" compõem uma cozinha dançante, bem humorada e colorida de timbres e efeitos. A guitarra se aproveita bem disso e também colabora na exploração dessa dinâmica, suas referências de efeitos e timbres vão desde U2 até a praia de Black Oak Arkansas e Uriah Heep. Já abrem o disco com um melodrama de um jovem casal que terá um bebê... e, tanto em questão de tema, quanto falando de duração da música, 7 minutos, não é qualquer um que é "parrudo" o bastante para abrir um disco assim e não soar chato desde o início. "Charmer" vem logo após, trazendo referências de sons tipo Pixies e Blur num som pancada e de vocal "auto-destrutivo". Suprem os necessitados de baladas com "The Runner" e "Fans", mostrando que ainda fazem bonito se quiserem soar folk. Sobre o "ooooohhh" de "Trunk" ou a cozinha em "McFearless" eu nem sei o que falar, só sei que me emocionam demais!!!(rsrsrs) "On Call", "Black Thumbnail" e "My Party" resumem todo aquele colorido de timbres e efeitos de que tinha falado: timbrões gordos e saturados que não soam como a maioria da meninada "retrô" de hoje, pois misturam efeitos, delays (em baixo e batera inclusive!), muita dinâmica e ritmos dançantes fazendo um disco inspiradíssimo e, certamente, uma das pérolas do rock atual. Isso tudo e as letras sujinhas desses rockeiros marotos colocam o "Because of the Times" no topo dos meus favoritos de 2007.


Aos que ainda não conhecem o disco, achei no orkut um link para baixá-lo: http://www.badongo.com/pt/file/4948713 ... fica ai o convite!!! Espero que gostem!


Para saber mais sobre a banda: em inglês ou português.