sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Mudar da água para o vinho

Sexo: feminino.

Descrição: cabelos roxos compridos, roupas pretas, tatuagens e vários brincos.
Idade: 56 anos.
Quem é ela??? Uma roqueira desvairada e rebelde?! Errado. Esta é Baby do Brasil, ex-integrante do grupo “Novos Baianos”. Agora, uma pastora evangélica.

Como vocês sabem, Baby do Brasil (ex-Consuelo) já foi hippie, pregava o amor livre e fazia músicas, digamos, adiantas às de sua época. Os anos se passaram e aqui está ela totalmente mudada em seu interior, como ela mesma diz. De tão mudada, dizendo ter visto, várias vezes, sinais “gloriosos”, agora ela embarca como líder de um grupo religioso, ou, como quiserem, um novo culto denominado “Ministério do Espírito Santo de Deus em Nome do Senhor Jesus Cristo”, que já vem “salvando as almas perdidas” (que ela exemplifica como punks, skatistas e gays), há três anos.

Depois do milagre da multiplicação dos filhos (com nomes bem esquisitos, diga-se de passagem), a telúrica cósmica renova a fé fazendo aleijado andar e cego enxergar durante os cultos. O “Ministério do Espírito Santo em Nome do Senhor Jesus Cristo” foi fundado por Baby, depois que seu último CD não emplacou nem nas paradas de ônibus.


Há algum tempo, Baby fez a seguinte declaração: “Há poucos dias, estava cantando um louvor com a banda e entrou um senhor numa cadeira de rodas. Quando olhei para ele, senti que ia curar. O pastor foi orar com ele, e eu continuava louvando. De repente, ele levantou e andou”.
Segundo Baby, essa não foi a única vez que fiéis se curaram enquanto sua banda tocava. “Um dia, estava numa igreja e, quando o culto acabou, ouvi uma voz: ‘Volte a louvar’. Continuei o louvor, e minutos depois uma senhora de 75 anos, que estava acompanhada dos netos, levantou e começou a gritar: ‘Estou enxergando, estou enxergando’”, relatou a cantora.

Baby em sua fase hippie, com o grupo Novos Baianos, nos anos 70

Baby é um exemplo claro de boa parte da população que muda de crença, seja por problemas na família, financeiros, falta de “afinidade” com a religião ou crença que já freqüenta, entre outros motivos aparentemente inexplicáveis. No caso de Baby, que já passou por muitas, desde a filosofia hippie até aos ensinamentos do guru Thomas Green Morton (que divulgava o poder mágico da palavra Rá e dizia entortar talheres com a força da mente e fazer luzes surgirem do nada), vejo quão incompreensível é a velocidade de não permanecer ou acreditar em uma crença.
Não se trata de o que há de certo ou de errado em trocar de religião, mas é curioso o fato de algumas pessoas dizerem “mudar de vida”, de uma hora para a outra, acreditando obterem poderes divinos ao encontrarem Jesus.

Não que todas que digam isso sejam desorientadas, mas estas coisas colocam em “xeque” a fé que o indivíduo diz ter, como é o caso da “ex-Nova Baiana”. Depois de tanto mudar e dizer milhões de vezes na mídia que finalmente encontrou Jesus, ela “surtou de vez” e resolveu, sem mais nem menos, montar uma igreja sem ter feito nenhuma especialização (nenhum curso teológico) para poder “liderar um rebanho”. E não é só isso... Baby diz conseguir ressuscitar mortos, lutar contra o demônio (ela diz que é ele quem está por traz das crises e tragédias que estão acontecendo nos Estados Unidos), e ainda diz “curar” homossexuais. E, é claro, como toda boa igreja, cobra o dízimo dos seus seguidores.

Baby ainda mudou todas as letras de suas músicas e as “evangelizou” dizendo ter conseguido finalmente a paz espiritual. Mas será que o “finalmente” dessa vez é pra valer ou é mais um golpe de marketing para alavancar sua própria audiência?! É, porque, até bem pouco tempo atrás, ela só aparecia a cada seis meses nos programas de TV para dizer que mudou de religião, ou para dizer que não faz sexo há mais de cinco anos em respeito a Jesus. Acreditem, a ex-hippie não crê mais no amor carnal. A "popstora", como prefere ser chamada, parece até a Gretchen que só aparece para dizer que largou, trocou de marido, fez um filme pornô ou se aproveita da imagem da filha recém assumida homossexual.
É esperar pra ver, irmãos!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Em Algum Lugar No Passado


Richard Collier, famoso escritor de teatro, durante a busca por inspiração para sua próxima peça, descobre que o grande amor da sua vida está no passado. Louco de amor ele tenta de tudo, até que consegue viajar no tempo e reviver aquela grande história. E não estamos falando de semanas, ele volta de 1980 para 1912!

Collier fez o que todos nós já quisemos ou vamos querer fazer um dia: voltar no tempo, consertar algumas coisas, reviver bons momentos e deixar a vida do jeito que a gente quer. O filme Em Algum Lugar no Passado (Somewhere in Time, USA, 1980), dirigido pelo francês Jeannot Szwarc, desperta as lágrimas de quem já se despediu alguma vez na vida e revive a esperança do eterno apaixonado. Mas no fim das contas é uma grande lição sobre o valor dos momentos na vida.

Cuidado, Collier... você ainda não é o Superman!

“O passado ao passado pertence” diz sabedoria popular, mas o insistente e apaixonado Richard não tá nem aí. Consegue um milagre em nome de seu amor por Elise McKenna, e esse romance, mesmo que numa realidade paralela, cria situações difíceis que só o grande desejo de estarem juntos para sempre pode mantê-los empenhados em prosseguir. Mas não dá, Richard, existe sempre uma armadilha para quando você acha que está tudo certo.

McKenna e Collier em 1912.

Eu sempre evitei os filmes de amor, romance meloso, mas depois desse, vi que por mais lindo e cor-de-rosa que seja a história, ela sempre nos faz refletir muito profundamente sobre o grande paradigma do amor, esse sentimento lindo e terrível. Aos otimistas o sorriso vem bonito com lágrimas floridas e aos pessimistas a realidade se mostra a injusta de sempre.

O elenco do filme é cheio de figurões dos anos 80, época em que foi filmado e o destaque é para o saudoso Christopher Reeve (o eterno Superman) ainda jovem e com uma evidente carreira de primeira grandeza. A trilha sonora, composta por John Barry (11 trilhas de James Bond nas costas) é uma das mais envolventes que eu já ouvi. O tema de “Em Algum Lugar no Passado” é tão romântico quanto um carinho de amor pela manhã e a “Rapsódia Sobre um Tema de Paganini”, de Rachmaninoff, só pode ter sido escrita enquanto ele flutuava por aí, ambas são canções na medida para uma história de amor.

Se o casal fica junto no final? Aí vai depender de como você vê a vida. Emocione-se.

É clichê...mas com muita classe!


Tema de Somewhere in Time, de John Barry


Rapsódia Sobre um Tema de Paganini, de Rachmaninoff.


Saiba mais (mas tem que saber inglês):

Site oficial do filme: http://www.somewhereintime.tv/

Fundação Christopher & Dana Reeve: http://www.christopherreeve.org

Baixe o filme no site Making Off (Necessário cadastro)

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

As Aventuras de Herman, o Marinheiro.


Herman já tinha sido bancário, professor e fazendeiro para ajudar sua mãe e sete irmãos a não passarem muito aperto depois que o pai morreu. Um dia resolve ser marinheiro e, à bordo vários navios, vive muitas aventuras pelo oceano pacífico, participa de motins e chega até mesmo a viver alguns meses com a tribo de canibais Typee, das Ilhas Marquesas, na Polinésia Francesa. (mais sobre as Ilhas Marquesas)

Em 1844 abandona a vida de homem do mar. Casa-se, em 1847, com Elizabeth e aproveita a bagagem cheia de histórias para escrever alguns livros, que foram grandes sucessos na segunda metade dos anos de 1840, o que garantiu a Herman e sua família algum status e conforto.

As Ilhas Marquesas. Até eu, heim Herman!

Apesar de parecer, o Herman de quem falamos não é um personagem fictício, ele é o escritor norte-americano Herman Melville, que em 1851, escreveu Moby Dick, ou A Baleia. O livro, publicado em três fascículos foi um fracasso na época e levou nosso amigo Herman ao ostracismo. Quando ele faleceu, em 28 de setembro de 1891, há exatos 117 anos atrás, o obituário do New York Times registrava o nome de Henry Melville e ninguém se importou, de tão apagada estava sua fama.

Entretanto, o maior fracasso de critica e público de Herman Melville é o livro pelo qual ele é lembrado hoje. O romance Moby Dick conta a história do jovem Ismael que, decidido a trabalhar na marinha mercante embarca no Pequod, navio baleeiro do capitão Ahab e o desenrolar da história transforma o livro numa obra de arte.

Talvez o grande conteúdo psicológico, divagações de Ismael e as implicações metafóricas de cada personagem e fatos do livro, tenha deixado o pessoal de 1851, ainda não apresentado à Psicanálise (Freud nasceria apenas em 1856) bastante entediado e por fora do assunto, o que pode explicar o grande fracasso, naquela época, de uma obra tão boa.

Capa e contra-capa da primeira edição de Moby Dick.

A riqueza de detalhes sobre barcos, métodos de pesca de baleias e curiosidades marítimas em geral, escrito com total domínio de causa, já que Melville passou anos de sua vida trabalhando na marinha mercante dos Estados Unidos, somada com a atemporariedade do tema, provoca uma sede por cada nova página de Moby Dick.

A vontade doente de vingança do Capitão Ahab; a tripulação alucinada que entra na onda do chefe, colocando em risco a própria vida; as divagações de Ismael, que dentre todos é o mais bem nutrido de razão, tudo isso se apodera do leitor e o leva junto à caça daquele feroz diabo branco, que pode ser uma simples baleia albina, ou o símbolo das mais variadas obsessões humanas.

P.S.: Se quiser ver a rota do baleeiro Pequod e de outros aventureiros da literatura, clique AQUI.