sábado, 21 de junho de 2008

Ainda há Tempo!

Prólogo:

Vasculhando textos perdidos, encontrei esta resenha, ainda inédita sobre um evento bem especial. Não poderia deixá-la de lado, natimorta. Espero que gostem!

Cadê a Corneta?!?


Quando você ouve falar “Grupo Vocal” a primeira coisa que lhe vem na cabeça é: “Tédio...” ? Bom, você pode acertar algumas vezes, mas não quando falamos do grupo Vocal Tempo, de Cuba. Nessa hora você está 100% enganado.

Graças a exemplar iniciativa do SESC e da Fundação Cultural de Umuarama, pudemos ter o privilégio de apreciar, nesta sexta-feira, 25 de Abril, no Centro Cultural Schubert (lotadíssimo), o espetáculo vocal de nossos hermanos cubanos. Com um repertório composto em sua maior parte de música latina (bolero, mambo, cha-cha-cha...) e algo das big bands norte-americanas dos anos 50, o grupo fez um show excelente, diferente e animado.

Exclusivamente munidos dos vocais, eles reproduzem o som de todos os outros instrumentos, como percussão, contra-baixo, trompete, corneta, guitarra e tudo mais o que for preciso para reproduzir as músicas, além, é claro, dos vocais cantados normalmente. A afinação das vozes e a proximidade do som que imitam com o timbre original dos instrumentos é surpreendente.

O grupo Vocal Tempo existe desde 1998, quando seus seis integrantes (os mesmos até hoje) cursavam a faculdade de música em Cuba. Uma das disciplinas do curso, desenvolvia essa técnica de usar a boca para imitar os sons de instrumentos musicais. Adotaram e desenvolveram a idéia e hoje são os melhores do mundo neste ramo. O grupo já acumula centenas de apresentações pelas Américas e Europa, e estarão pelo Brasil apenas durante o mês de Abril, com apresentações quase que diárias em diversas cidades. Portanto, quem perdeu, perdeu bonito! Sobraram os Youtubes da vida pra matar a lombriga, ou a saudade pra quem conferiu.


"Yo Quiero Mambo!"

Mais informações: www.vocaltempo.com

sábado, 14 de junho de 2008

"Ó Pátria amada, idolatrada, salve, salve"?!?

Ainda há quem duvide que Brasil tenha tecnologia suficiente para se conectar com o mundo todo. Saiba você que aqui já tem televisão, redes telefônicas, computadores de acesso rápido à internet, e até o tal do MSN. A comunicação aqui existe e não tem ruído. O brasileiro que é brasileiro, não tem problemas com o diálogo, por isso é acostumado a esclarecer situações por meio desses avanços tecnológicos; principalmente em público né?! Porque brasileiro adora aparecer.
Político aqui é igual pescador, vive contando histórias. Histórias que dão o que falar. Na maioria das vezes, absurdos, absurdos que viram espetáculo. Sim, um espetáculo público transformado, vira e mexe, em CPI, tudo p
orque brasileiro adora aparecer.
E os programas que alegram nossas tardes?! Pérolas televisivas em que o brasileiro aparece para desabafar, contar causos, acusar o parceiro ou a parceira de traição, saber quem é o pai do filho ou o filho querer conhecer o pai. Tudo em público, porque brasileiro adora aparecer.
Nossas músicas já não são mais gritos de liberdade, nem hinos de louvor. Já não fazem mais sentido se não embalarem casais apaixonados em novelas de sucesso ou fazer “tchutchucas e tigrões balançarem a melancia”. Os bailes já não são mais saraus, são “baladas” no final de semana. Um mais “bombado” que o outro. E tudo isso porque brasileiro adora aparecer.
Falar de amor no Brasil é moleza, aqui até se morre por amor. Basta acompanhar o noticiário para saber quantos assassinatos acontecem diariamente envolvendo namorados, irmãos, pais, mães, avós, Izabellas, Ops! Quer dizer, menininhas indefesas... E tudo isso, claro, é publicamente “investigado”, para não dizer “sensacionalizado”. E por quê??? Só por que brasileiro adora aparecer?!?

* Foto de João Araújo
Não se notam as plácidas margens; e quase não se vê na TV, o povo heróico. O sol da liberdade? Hoje brilha no céu com seus raios que ardem na gente. E nem me fale em igualdade. Não mostram mais as conquistas com braço forte.
A liberdade? Essa continua a desafiar-nos até a morte. A Pátria amada, idolatrada, salve, salve... continuo buscando. Um Brasil de um sonho intenso, de amor e de esperança, com um formoso céu, risonho e límpido, resplandecente. Gigante pela própria natureza. Belo, forte, impávido colosso! Espero, no futuro, toda essa grandeza, para que a minha Terra adorada, também seja a de mil, de todos os filhos deste solo, a mãe gentil, pátria amada que, apesar de tudo, ainda é o Brasil!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

DON'T TRY!

***

Charles Bukowski (1920; 1994) queria ser honesto quando escrevia seus livros, característicos e inseparáveis de seu autor ao que devem por seu sucesso e à originalidade que possuem; a velha fórmula que nunca falha; uma coisa simples e direta sempre vai ter um charme especial, um apelo muitas vezes difícil em ser definido, como a razão de muitas mulheres amarem os homens mais cafajestes, atraíram - e ainda o fazem - aos mais diversos leitores.


"Eu certamente nunca seria capaz de ser feliz, me casar, nunca poderia ter filhos".


Ele escrevia somente o que sabia exatamente ser conhecedor, visando - ao contrário de outros na história da literatura, que eram artífices maravilhosos, sem dúvida, mas não muito preocupados na verossimilhança ao ponto em que a ficção de Bukowski chegou - mais retratar, por dentro e fora, uma alma em seu, assim me permitam chamar, habitat.

Já mencionei algo sobre o "Um retrato do artista quando jovem", e agora chamo à atenção de vós outros um outro roman à clef, escrito pelo velho Hank, "Misto quente", publicado em 1982 pela folclórica editora americana Black Sparrow, já extinta. Acompanha a infância, a puberdade e o início da vida adulta do velho amigo da vizinhança bukowskiana (não é o Homem-aranha!), Henry Chinaski, vivendo, paupérrimo, com sua mãe e a cruel (para com esta e para com ele, o filho, também) figura paterna, que enfrentava dificuldades em aceitar a pobreza e o desemprego à sua volta e a ignorar o que acontecia, como se houvesse se transformado em um Don Quixote "do-mal", abusando física e mentalmente do garoto; tratando todos com desdém, traindo a esposa, e até, certa vez, intentando dar a entender que não havia perdido o emprego aos moradores do bairro, sair durante uma época com o carro todos os dias pela manhã, teoricamente para trabalhar; ou matriculando Chinaski Jr. em uma escola a quilômetros da residência da família, porque era "melhor freqüentada", por filhos de famílias não tão afetadas pela Depressão após a queda da Bolsa de Valores de New York em 1929... - Bem, segue a lista!


O jovem Bukowski comportadíssimo, ao seu costume.


A narrativa pinta o garoto tornando-se uma espécie de Frankenstein, marginalizado por causa de sua aparência "monstruosa" (ele sofreu de um caso gravíssimo de acne durante anos); aprendendo a beber, a não levar desaforos consigo sem resposta, a jogar; convidando-nos para dentro do sofrimento do protagonista, alienado a um grau mais intenso a cada capítulo. Aposto que, contraditório que pareça, irão adorar caminhar junto da Los Angeles que só ele viu e desnudou , como todo leitor experimentado de Charles Bukowski aprendeu já a fazer.

Sem mais, boa leitura! VALE.

P. S.: A ligação para o livro eletrônico "Misto quente".