CULTURANJA - Quando tinha 10 anos de idade, o que você sonhava para o seu futuro? A música já te chamava atenção?
DINHO - Não quando tinha 10 anos. Nessa época eu morava no interior de SP, Araçatuba e logo depois Rancharia. Eu jogava basquete, tênis e nadava muito. Aos 13 anos comecei a tocar sem ninguém para me ensinar. Eu ia até uma igreja evangélica aprender piston. O pastor lia música e me ensinava como tocar. Daí começou a minha curiosidade pela vida de grandes músicos. Qualquer história me emocionava porque era sempre solitária e de lances sempre muito fortes. Lembro-me do filme de um trumpetista Red Nichols que fez promessa de parar de tocar se sua filha vivesse depois de ter ficado muito doente quando nasceu. Sempre histórias tristes e muito vividas.
CULTURANJA - O que seus pais pensavam do seu sonho, eles apoiavam ou falavam que você estava “viajando” demais?
DINHO - Meu pai sempre ajudou muito porque tocava gaita de chave muito bem e sabia o que era a música para uma pessoa. Apesar disso ele sempre tentava me convencer a fazer concursos para bancário, pra ser como ele. Normal né?!
CULTURANJA - Depois que entrou para os Mutantes, o que passava pela sua cabeça? Você se lembrava de quando era criança e fazia algum paralelo sobre sua vida naquele momento e de quando era mais novo?
DINHO - Para quem via de fora, poderia até estar sendo um sonho, mas para mim tudo era mais do que real porque desde que eu comecei sempre tive a impressão que iria tocar com músicos “tops”. Eu estava sempre andando pra frente normalmente.
Formação original com Sérgio Dias, Arnaldo Baptista, Liminha, Dinho Leme e Rita Lee
CULTURANJA - Como era ser um “Mutante” quando a banda começou e como é fazer parte dos Mutantes agora?
DINHO - Era uma coisa bem diferente dos outros artistas da época. Como banda só havia a gente tocando daquela forma. Surgiram alguns grupos como Néctar, Mescla, Scaladácida, mas eram muito poucos e amadores. Hoje é mais normal porque vimos tudo aquilo ser reconhecido e ficamos admirados de ver o tanto que as pessoas gostam e dão valor no que foi feito. Eu fico impressionado em ver pessoas que não eram nem nascidas quando a banda acabou e que hoje, depois que nos reunimos para tocar, freqüentam nossos shows e cantam nossas músicas, como se elas tocassem sempre no rádio. Parece até que somos uma banda de jovenzinhos [risos].
CULTURANJA - E quando tudo acabou? Já pensava em ser assessor de imprensa, algo tão diferente do que fazia antes?
DINHO - Gosto muito de trabalhar com a estruturação de atendimento a imprensa, mas jamais seria um funcionário de um jornal ou TV.
CULTURANJA - E agora? Como é voltar à ativa quando o público não imaginava mais vê-los tocar?
DINHO - Nunca pensei que Mutantes pudessem voltar e jamais com essa formação que conseguimos, com muita harmonia e energia. Tá muito mais gostoso tocar agora do que antes quando não tínhamos os músicos para tocarem os arranjos de Rogério Duprat com sintetizadores, flautas, violas, chello, etc.
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Mutantes em nova formação, prontos para novas canções e sem perder a pose
CULTURANJA - E qual o sonho que ainda não realizou?
DINHO - Nunca pensei em ser nada na vida, não. O meu grande sonho, na verdade, continua sendo o mesmo de quando eu era criança: viver o quanto mais perto da natureza, mato, bichos e o mais longe possível de multidões [...] poder jogar para o ar coisas que às vezes nos incomodam. Estou quase conseguindo.