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Charles Bukowski (1920; 1994) queria ser honesto quando escrevia seus livros, característicos e inseparáveis de seu autor ao que devem por seu sucesso e à originalidade que possuem; a velha fórmula que nunca falha; uma coisa simples e direta sempre vai ter um charme especial, um apelo muitas vezes difícil em ser definido, como a razão de muitas mulheres amarem os homens mais cafajestes, atraíram - e ainda o fazem - aos mais diversos leitores.
Ele escrevia somente o que sabia exatamente ser conhecedor, visando - ao contrário de outros na história da literatura, que eram artífices maravilhosos, sem dúvida, mas não muito preocupados na verossimilhança ao ponto em que a ficção de Bukowski chegou - mais retratar, por dentro e fora, uma alma em seu, assim me permitam chamar, habitat.
Já mencionei algo sobre o "Um retrato do artista quando jovem", e agora chamo à atenção de vós outros um outro roman à clef, escrito pelo velho Hank, "Misto quente", publicado em 1982 pela folclórica editora americana Black Sparrow, já extinta. Acompanha a infância, a puberdade e o início da vida adulta do velho amigo da vizinhança bukowskiana (não é o Homem-aranha!), Henry Chinaski, vivendo, paupérrimo, com sua mãe e a cruel (para com esta e para com ele, o filho, também) figura paterna, que enfrentava dificuldades em aceitar a pobreza e o desemprego à sua volta e a ignorar o que acontecia, como se houvesse se transformado em um Don Quixote "do-mal", abusando física e mentalmente do garoto; tratando todos com desdém, traindo a esposa, e até, certa vez, intentando dar a entender que não havia perdido o emprego aos moradores do bairro, sair durante uma época com o carro todos os dias pela manhã, teoricamente para trabalhar; ou matriculando Chinaski Jr. em uma escola a quilômetros da residência da família, porque era "melhor freqüentada", por filhos de famílias não tão afetadas pela Depressão após a queda da Bolsa de Valores de New York em 1929... - Bem, segue a lista!
A narrativa pinta o garoto tornando-se uma espécie de Frankenstein, marginalizado por causa de sua aparência "monstruosa" (ele sofreu de um caso gravíssimo de acne durante anos); aprendendo a beber, a não levar desaforos consigo sem resposta, a jogar; convidando-nos para dentro do sofrimento do protagonista, alienado a um grau mais intenso a cada capítulo. Aposto que, contraditório que pareça, irão adorar caminhar junto da Los Angeles que só ele viu e desnudou , como todo leitor experimentado de Charles Bukowski aprendeu já a fazer.
Sem mais, boa leitura! VALE.
P. S.: A ligação para o livro eletrônico "Misto quente".
3 comentários:
Excelente caro Bruno
Já no aguardo da próxima
Certamente uma das coisas que mais chamam a atenção em Chinaski é sua opinião sobre as mulheres... “As garotas pareciam legais a certa distância, o sol resplandecendo em seus vestidos, em seus cabelos. Mas vá se aproximar e ouvir seus pensamentos escorrendo boca afora, você vai sentir vontade de cavar um buraco ao sopé de uma colina e se entrincheirar com uma metralhadora.”
Huahauahhahahaha! Pode soar antipático, mas chega a ser comovente de tanta insegurança! Por isso, Henry Chinaski/Bukowski, apesar das grosserias infindas (uma forma de se defender do mundo que ameaça tomá-lo à força e modificá-lo, arregimentando-o para as fileiras dos malditos “felizes e bem-sucedidos”, seja lá o que isso signifique), torna-se alguém tão querido: alguém desconfortável dentro de sua própria vida, um dos personagens de papel mais puramente constituídos de carne e osso de que já se ouviu falar!!
Thanx, Bruno! :DDDDDDDDDDDD
Cara... fã de você e do Bukowsky!
Me coça o cucuruto de vontade de saborear esse misto quente!
Abraço, mermão!
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