quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Tchubarubarando com a Mallu.

O que pediria uma menina de 15 anos de idade ao seu pai rico? Certamente um monte de coisas legais como celulares, sapatos, roupas, festas ou viagens maneiras. O bom é que pra tudo tem exceção e, nesse caso tem até nome próprio: Mallu Magalhães.

Mallu poderia ser mais uma cocotinha paulistana, que torra a grana do pai bem de vida em frivolidades adolescentes que só a ajudariam a ter mais sucesso entre suas iguais, entretanto resolveu bancar a esperta e não ser simplesmente a melhor entre seu grupinho, resolveu ser realmente diferente de todas. Ao invés de um festerê lindo pra society, Mallu resolveu pedir um “paitrocínio” para gravar um disco com músicas escritas por ela mesma.

Mallu, mas parece a Judy Foster.

Com o presente do pai e suas canções ela foi até o estúdio “Lucia no Céu”, lá no Sumaré, em São Paulo e, juntamente com os músicos do local arranjou e gravou suas primeiras canções, disponibilizadas em seu MySpace. Dai pra frente, após divulgar bastante o trabalho e causar frison no circuito alternativo de São Paulo, blogs, jornais e MTV’s em geral, a menina ganha os festivais de música do Brasil e, já com 16 anos de idade, acompanhada pelos músicos do estúdio “Lucia no Céu”, que agora são a sua banda oficial, entra novamente em estúdio e grava o seu disco de verdade.

O trabalho é uma superprodução, com direito a equipamentos antigos da gravadora EMI restaurados (com os quais também foram gravadas as músicas do Led Zeppelin IV), instrumentos escolhidos à dedo como o piano usado por Tom Jobim, guitarras dos anos 50, colheres e panelas na bateria e experimentações diversas, tudo supervisionado pelo renomadíssimo produtor musical Mário Caldato, que já trabalhou com gente graúda como o Beastie Boys, Super Furry Animals, Molotov, Seu Jorge, Planet Hemp, Bebel Gilberto, Marcelo D2, Chico Science & Nação Zumbi, dentre outros. Enfim, com tudo isso junto, não poderia sair outra coisa senão um álbum de sonoridade caprichadíssima.

Mallu e sua turma, no estúdio.

Mallu Magalhães
e um leãozinho atento, estilo bolacha passatempo, é o que se vê na capa do disco que carrega o cancioneiro da garota paulistana e que foi lançado oficialmente no dia 15 de Novembro deste ano, durante o festival Gig Rock, em Porto Alegre. No festival estavam presentes diversos nomes de vulto da música independente nacional, mas a boa notícia para os conterrâneos é que a banda que se apresentou logo após o show de Mallu (muito bom, por sinal) foram os Umuaramenses do Nevilton, que continuam cada vez mais marcando presença no cenário nacional.


Na feira da fruta, o clipe de Tchubaruba.

Folk por excelência, dá pra se notar tons de Bod Dylan, Johnny Cash, Elvis Perkins e comparsas bem evidentes em todas as faixas do álbum, ainda mais que a maioria das músicas são em inglês, mas sem qualquer desabono no sotaque da garota. As guitarras de Kadu Abecassis, a bateria de Jorge Moreira e os baixos de Thiago Consorti, conversam de igual pra igual com os vilões, banjo e gaita de boca de Mallu, criando um clima feliz e colorido, inclusive nas músicas mais melancólicas.

Infelizmente, chega uma hora que a voz ainda um tanto infantil de Mallu começa a soar incômoda, dando a impressão de que o disco poderia terminar lá pela décima música ao invés de se estender por quinze. Mas isso é só um pequeno detalhe que é diminuído pela qualidade sonora e musical que essa trupe conseguiu criar nos 10 dias de gravação do álbum. E é essa criatividade de qualidade que faz com que cada nova canção que começa se torne uma surpresa dessa caixinha carinhosamente criada e decorada pela menina prodígio mais descolada do momento. Que sirva de exemplo!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

1984: O ano em que o cérebro era troféu

Sob os olhares atentos e uma espécie de terror psicólogo, a obra “1984”, de George Orwell, escrito em 1948, fala de um mundo, Oceania (congregação de países de todos os oceanos), dominado pelo socialismo stalinista em 1984 (o inverso dos números do ano em que foi escrito). Em um mundo onde o Estado domina e nada é de ninguém - mas tudo é de todos - tudo o que resta de privado são os poucos centímetros quadrados do cérebro. E é aí que a batalha se desenvolve, entre o indivíduo e o Estado lutando na tentativa de controlar a mente.

Escrito no pós-guerra, o livro “1984” é um dos maiores clássicos do século passado. O romance de George Orwell descreve uma visão pessimista de um futuro sombrio. O autor inverteu o ano no título para criticar que o totalitarismo vigente em 1948 não era obra apenas de ficção científica. Os editores preferiram inverter os últimos dígitos para não assustar ainda mais os leitores. O ano de 1984 passou e pouco do que foi escrito se concretizou. Provavelmente nos próximos anos oitenta teremos uma sociedade mais parecida com a que foi imaginada por Orwell, pois ainda estamos no estágio experimental do controle da população.

A teletela, o aparelho imaginado por Orwell, é um eficiente receptor e emissor de dados que não se compara às limitações dos aparelhos de TV e dos micro-computadores. Para garantir a manutenção do Partido (tratado como Estado), os setores mais importantes da sociedade eram controlados por elas, sempre sob a onipresença do Grande Irmão (ou Big Brother e antes que me perguntem, lá vem a resposta: sim, o livro tecnicamente também inspirou o programa de TV).

Baseado na opressão dos regimes totalitários das décadas de 30 e 40, o livro não se resume a apenas criticar o stalinismo e o nazismo, mas toda a nivelação da sociedade, a redução do indivíduo em peça para servir ao Estado ou ao mercado através do controle total, incluindo o pensamento e a redução do idioma. A função de Winston Smith (personagem principal) é uma crítica à fabricação da verdade pela mídia e da ascensão e queda de ídolos de acordo com alguns interesses. No Miniver (Ministério da Verdade), ele alterava dados e jogava os originais no incinerador (Buraco da Memória) de tudo que pudesse contradizer as verdades do Partido.

Intrigante e ameaçadora, a obra, apesar de ser uma “visão de como seria o mundo em 1984”, deixa de lado o estereotipo corriqueiro de obras de ficção cientifica (que geralmente tratam o futuro como algo irreal). Indico a leitura principalmente a todos da área de comunicação. Com certeza, quem já leu, assim como eu, adorou!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O Ladrão de Sonhos [La Cité des Enfants Perdus, 1995]


Seu criador não o deixou a capacidade de sonhar. Sem sonhos, Krank era só um homem rabugento, um velho que continuava envelhecendo tão rápido que a vida não era nada de especial para ele. Sem sentimento algum, não chorava nem sorria, só mandava e desmandava em seus criados, isolado do mundo em sua plataforma no meio do mar. Mas ele tinha um plano, descobriu que poderia roubar os sonhos das crianças (já que adultos não sonham, são realistas demais) e com estes sonhos conseguiria não mais envelhecer e seria, enfim, um humano completo.

Porém, Krank não sabia com quem estava mexendo ao seqüestrar o “irmãozinho” de One, um brutamontes destemido que, com a ajuda da pequena e irresistível Miette e sua trupe de infantes bandidos, percorre lugares sombrios, mofados, desolados e habitados pelos seres mais bizarros, mas ao mesmo tempo poéticamente belos. Tudo isso para salvar seu irmãozinho e acabar com o reino de terror de Krank.

Krank em sua máquina de roubar sonhos.

Este é o pano de fundo do filme O Ladrão De Sonhos (The City of The Lost Children ou La Cité des Enfants Perdus), um longa metragem francês, lançado em 1995, com direção de Jean-Pierre Jeunet e Marc Caro. A dupla também dirigiu o maravilhoso Delicatessen e, Jeunet nos presenteou com o mitológico e Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Em o Ladrão de Sonhos a realidade de um mundo fantástico se torna palpável através de uma cenografia e fotografia cuidadosamente elaboradas, além do estiloso figurino do famoso estilista francês Jean Paul Gaultier. Usar crianças maduras e adultos infantilizados é também uma piada deliciosa dos roteiristas.

One e Miette à caminho do reduto do velhaco Krank.

Os filmes Europeus, diferentemente dos norte-americanos, são bastante densos e provocam reflexões mais profundas. Alguns são intragáveis com tanta referência cultural, o que não acontece com esta obra prima. Nela, elementos como o medo, o egoísmo, o altruísmo, o amor, a amizade e outros mais, são abordados em uma visão universal e acessível a todos. Inclusive, a grande beleza nisso é que todos os elementos da história conspiram para que, assim como aquele velho rabugento, nós também percebamos que sonhar faz a vida algo melhor.

A idealização das coisas, tão fora de moda nestes tempos egoístas, é louvada enquanto o “seja realista e cuide do seu traseiro” não tem outro espaço no filme, senão o de vilão. É uma visão romanceada da vida, mas, ora bolas, estamos falando de um conto de fadas moderno, não poderia ser diferente. Não poderia ser melhor.

One e Miette.



O Trailler.

E para quem se interessou, o link para download.