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Talvez somente o fato de que gênios, Freud e Einstein, entre outros, tenham declarado considerarem-no o maior romance já escrito, motivasse a que eu lhes indicasse a leitura de Irmãos Karamazovi, por Dostoiévski, último volume da obra deste e sua magnum opus; mas a autoridade e a qualidade desta sua realização, isoladamente consideradas, prescindem de tais socorros, tornando-as, essas opiniões, umas suas vaidades.
O parricído na família Karamazov é o plano de fundo para o mais jovem filho da vítima, Alexei, junto dos dois irmãos e dos outros personagens maiores na trama, mas, para o primeiro, principalmente por causa destes, enfrentar dúvidas existenciais às quais suas disposições naturais na infância e a rotina, os ensinamentos em um mosteiro, posteriormente, o protegeram, por parte de sua vida, perturbadas pelos últimos, como se fossem rajadas de vento, vindas de todos os lados, que o atingissem.
Deus existe; se meu sábio irmão Ivan contesta o que me disseram os monges? Devo ser cúmplice de meu irmão Dmítri, suspeito de assassinar meu pai? Merecia esse meu agora defunto progenitor, em toda sua vileza, destino mais benigno? Caso-me? Devo fornicar com a mulher protagonista da desgraça lançada sobre minha família, porque é bela e diz desejar-me? Teria esta família um diferente desfecho, da forma que começou e com o andamento tortuoso daqueles responsáveis por tocá-la, dos quais dependia para prosperar? Felizmente Alexei estava bem agasalhado por suas concepções religiosas, e não sofreu senão de um leve resfriado ideológico. Entretanto podem perceber, espero ter conseguido demonstrar, que a coisa é mais complexa que um who-done-it hollywoodiano ou um quem-matou-Lineu global.
Se ainda houver insatisfeitos que gostam de saber o que há para além da contra-capa da obra, alguma circunstância interessante a esse respeito vale dizer-lhes. Por exemplo, o modelo para o pai dos protagonistas foi o papai do autor, um proprietário de terras abusivo assassinado por empregados revoltados; e Alexei foi uma homenagem ao pequeno filho falecido de Dostoiévski. Em um painel maior, há a crítica a filósofos russos cujas idéias eram celebradas, à época da publicação: o niilista Ivan Karamazov provavelmente o seja ao Bazarov de Pai e filhos. Finalmente quero que, por favor, atentem o olhar histórico sempre presente, característica esta a que Tolstói resumiu, injustificadamente, os esforços de Fiódor Dostoiévski na arte da literatura.
Sem mais... VALE!
P. S.: Aqui têm o livro em português, hospedado no todo-poderoso Scribd.
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