terça-feira, 20 de outubro de 2009

Culturanja na História


Percorrendo os imensos corredores dos arquivos "culturânjicos" me deparei com este texto escrito em conjunto, nas primeiras horas da madrugada do dia 27 de Fevereiro de 2008, pelos culturanjers do Paleolítico: Tiago Inforzato (que vos escreve), Bruno Peguim e Nevilton de Alencar .

Naqueles dias, para ser mais exato 26 e 27 de Fevereiro, acontecia em Umuarama a 1ª Conferência Municipal da Juventude. O evento elegeria os representantes da juventude umuaramense para o Conselho Municipal da Juventude, que atuaria em conjunto com a Administração Municipal nas questões referentes às políticas públicas para os jovens do município.

Inspirados pela movimentação da geralmente apática juventude da cidade (o que ainda não mudou muito), nós saímos do primeiro dia do evento e, após criativa discussão filosófica noturna (vide foto acima), redigimos este manifesto que foi entregue, no dia seguinte, a todos os participantes e autoridades lá presentes.

Os representantes jovens foram eleitos e depois não soube mais de nada do tal Conselho. Mas o texto tá aí, mais uma parte da nossa história de agitadores sociais! :cD


Nevilton, Bruno, Tiago e John. Sempre agitando a juventude!


S.I.M., nós temos "pedigrí" !

Em dias como esse é que podemos ter satisfação em ver brasileiros preocupados em mudar a situação do país, que podemos ver umuaramenses preocupados em desbancar a velha ladainha de que “santo de casa não faz milagre”, que podemos ver jovens preocupados em acabar com aquela história de que “política é coisa para gente grande”! Jovens deixando de lado a “gambiarra”, o imediatismo inconsequente, participando a tomar atitudes plausíveis hoje, para garantir um futuro digno (de verdade!).

Nos anos 50, por ocasião da derrota para o Uruguai na final da copa, o dramaturgo Nelson Rodrigues cunhou o termo “complexo de vira-lata” se referindo “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”. No entanto, esta expressão é muito mais abrangente, chegando a ser objeto de estudos sociológiocos que analisam profundamente o comportamento do brasileiro. Apresentamos aqui, a visão esclarecedora do sociólogo Humberto Mariotti sobre o brasileiro e essa sua alcunha:

Na análise efetuada por Humberto Mariotti, o brasileiro, por ainda não ter atingido o estágio de knowledge worker (trabalhador dotado de conhecimento) preconizado na década de 1950 por Peter Drucker (no qual o trabalhador domina o conhecimento e se torna menos suscetível aos efeitos devastadores do desemprego), contenta-se com pouco e sente-se satisfeito quando recebe alguma atenção por parte das autoridades. Esta auto-desqualificação já teria atravessado o Atlântico e chegado a Portugal, onde, segundo Mariotti, trabalhador brasileiro é sinônimo de garçom ou peão de construção civil. Nossa única profissão exportável, mesmo assim não qualificada pela educação formal é, como todos sabem, a de futebolista.

Para Mariotti, vencer este complexo de inferioridade, reforçado pelos sucessivos escândalos de corrupção nos quais o governo brasileiro esteve envolvido nos últimos anos, só poderá ser satisfatoriamente resolvido através da educação. Todavia, contrariamente a outros, não encara a raiz do problema num alegado deslumbramento brasileiro perante a cultura estrangeira (francesa até as primeiras décadas do século XX e estadunidense daí em diante). Para Mariotti, a baixa auto-estima nacional provocaria uma reação contrária, de supervalorização da cultura nacional, que se encapsularia em si mesma, e rejeitaria o que vem de fora: “No Brasil, e não só aqui, o nacionalismo cultural inclui a aversão à leitura, e sobretudo àquilo que muitos consideram a mais execrável de todas as atividades: pensar, refletir e discutir idéias com outros também dispostos a fazer isso.”

Mariotti conclui afirmando: “Como todo reducionismo, esse também produz resultados obscurantistas. Essa limitação nos leva, por exemplo, a imitar o que a cultura americana tem de pior (a massificação, a competição predatória, o imediatismo) e a não procurar aprender e praticar o que ela tem de melhor (a pontualidade, a objetividade, a pouca burocracia).”

Ficam aqui nossos parabéns a você que esteve presente na 1ª Conferência Municipal da Juventude e que demonstrou o interesse em mudar, dando o primeiro passo em busca de transformar discurso em ação.

Culturanja.
*site mantido por jovens que se preocupam com a produção cultural.


Ps: Nosso manifesto foi publicado n'A Tribuna do Povo, no sábado após o evento (01 de Março de 2008) e gerou esse artigo do Achiles Delari Jr. como respota. Leia e tenha suas próprias conclusões.

PS2: Acompanhem os desdobramentos dessa história e mais algumas "fotos de arquivo" aqui.

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