sexta-feira, 2 de maio de 2008

Mutanteando no Culturanja - parte II - A missão

Não contentes com apenas sete perguntas para o “Mutante” Dinho Leme, essa semana, nós do Culturanja publicamos a parte 2, o lado B, da entrevista com o batera dos Mutantes. Mais respostas quentinhas, desabafos e claro, bom humor. Ah, e um vídeo com a música novinha, novinha no final. Confira:


CULTURANJA - Qual a principal diferença entre o público que freqüenta os shows agora e o da década de 70?

DINHO - Naquela época [anos 70] a gente tocava pra uma galera que participava de um grande movimento, um movimento pacífico. Você olhava do palco e todo mundo era cabeludo, barbudo e a gente também era assim [risos], aquela coisa hippie, sabe? Antigamente o nosso público, além de ser ligado a cultura, tinha aquilo como um modo de vida mesmo. Os jovens esperavam por mudanças, tínhamos esperança de mudar. Hoje não! Hoje o público é totalmente eclético. Todo tipo de pessoa está nos nossos shows. Claro que o mundo está diferente, e é engraçado porque não vemos só gente que curtiu Mutantes nos anos 70 nos shows de agora. Acho que é por causa da tecnologia. Isso me impressiona muito, facilita a comunicação e a divulgação de qualquer tipo de arte. Esses dias mesmo eu estava conversando com a menina que cuida da nossa comunidade no Orkut e ela disse que dos mais de 62 mil membros, 75% tem a faixa etária entre 16 a 22 anos de idade. É muito louco saber que temos apoio dessa galera nova.

Mutantes na década de 7o


CULTURANJA - Na semana passada vocês fizeram um mega show na Virada Cultural, em São Paulo, que reuniu cerca de 1,5 milhão de pessoas em plena madrugada paulistana e ainda lançaram a primeira música inédita em 34 anos, a "Mutantes Depois". Como é entrar de novo na mídia com uma canção nova em tempos de funks cariocas e modinhas consumistas?

DINHO - Acho que nosso som é autêntico. Um som sem vícios, sem pretensão de tocar no rádio. Aliás, Mutantes nunca fizeram hit pra tocar em rádio comercial. Esse lance de moda passa, daqui a pouco ninguém mais lembra. Quem é autêntico nunca some. Muita gente que foi no nosso show na Virada Cultural se emocionou. Amigos meus, da minha idade, que estavam lá se emocionaram. Uma menina de 17 anos, que também foi na Virada e que a gente acabou conhecendo, disse que saiu de Porto Alegre, foi sozinha pra São Paulo, escondida, fez uma viagem difícil, dormiu na rua só pra ver o nosso show. Tanta gente conhece nosso trabalho e a gente nunca precisou estar na moda.

Show dos Mutantes na Virada Cultural - de tanta gente, mal se via o palco. Foto por Lorena Lenara Batista

CULTURANJA - Desde quando vocês se reuniram em 2006, já pesavam em fazer um trabalho com músicas inéditas?

DINHO - Criar é a razão da existência. Não havia razão de a gente reunir os melhores músicos para apenas tocar algo que já foi feito. Quando a gente se reuniu em 2006, nós sabíamos que a Zélia estava conosco só de passagem. O Liminha ia tocar também, mas não deu por causa de alguns problemas. O fato é que eu e o Sérgio estávamos muito empolgados, aí depois da turnê em 2006, nós fizemos uma lista com oito ou nove músicas que já tínhamos a letra. Entramos em estúdio com o Vitor [teclados, flautas, viola, cello e vocal] e o Vinícius [baixo] e 2 horas depois a gente disse “Cara tá pronto! É isso!”, naquele momento a gente viu que tinha gás, viu que podia fazer algo muito legal, muito bonito e novo.

Show dos Mutantes em março de 2007, quando Zélia e Arnaldo ainda faziam parte da banda. Foto por José Mário Dias

CULTURANJA - O que o público pode esperar desses novos trabalhos do grupo? Algo que remete ao passado ou algo totalmente novo e com o já conhecido “toque mutante de experimentalismo”?

DINHO - As músicas não são simples e são criativas. A “Mutantes Depois” é a única baladinha. As outras são muito loucas, muito doidas mesmo. Não tem nem como explicar! Nós tivemos o privilégio de participar de um movimento cultural muito forte no passado. Não tem como escapar de fazer referência aos Beatles e à Tropicália porque a gente viveu aquilo e agradece a isso. Não tem como fugir dessas coisas do passado. O público pode esperar muita coisa misturada, como sempre costumamos fazer. Tem horas que eu me pego tocando tango, pra você ter uma noção. É difícil pensar numa banda que faz essa mistura normalmente.


CULTURANJA - Vocês não têm medo de que, mesmo com as músicas novas, a banda ainda continue vivendo de passado? Afinal, são inúmeros os sucessos.

DINHO - Não tem do que ter medo. Nós estamos fazendo algo novo, mas nunca vamos deixar de tocar os sucessos do passado. Os Rolling Stones mesmo, 90% dos shows deles são de músicas antigas. Só alguns arranjos são novos.


CULTURANJA - A imprensa divulgou que esse novo CD de vocês, previsto para ser lançado ainda esse ano, conta com a participação de Tom Zé, grande veterano da MPB, e a do cantor norte-americano Devendra Banhart, que foi descoberto em meados de 2002. Como aconteceu a parceria com esses dois músicos que vêm de gerações tão diferentes?

DINHO - Foi tudo muito natural. O Devendra vive passando e-mail pro Sérgio. Desde 2006 ele sempre perguntava quando íamos fazer algo e que tínhamos de chamar ele para participar. Aí quando o Sérgio mandou a música [Mutantes Depois] pra ele, resolvemos brincar e ver no que dava. Não duvido nada também que um dia role algo com o Sean Lennon. Já o Tom Zé é um membro da família, né? Vive aparecendo do nada nos shows. É um cara muito presente. Ele, que viveu tudo o que a gente viveu, diz que essa parceria está rejuvenescendo ele [risos].


CULTURANJA - O CD novo vai ser lançado por alguma gravadora ou vai ser uma produção com selo independente?

DINHO - Vai ser lançado pela Sony.


CULTURANJA - Vocês não têm medo que a gravadora, de repente, comece a moldar o som e a verdadeira proposta da banda com o intuito de vender CD?

DINHO - Pode até acontecer, mas não vai pegar porque não adianta, nosso som não é comercial. Dificilmente eles fariam isso. A gente está mexendo com pessoas que sabem quem são os Mutantes, que conhecem nosso trabalho, nossa proposta. Eles não vão jogar fora uma coisa que eles apostam numa época em que ninguém aposta em mais porra nenhuma!


Veja o vídeo com a primeira música inédita dos Mutantes em 34 anos, "Mutantes Depois", gravada em um show de divulgação lá no Teatro Municipal de São Paulo:




3 comentários:

Tiago Lobão disse...

Mas tá bonito, heim!!!
Parabéns mesmo, Donãna,o orgulho da família!
ehehehe
beijons

Jenny Artichoke disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

O Dinho é o cara!